sexta-feira, 17 de junho de 2011

Capítulo 1: De volta as Raízes

E aqui estou eu olhando pelo vidro da janela desse carro. As montanhas são tão lindas quanto eu me lembrava! Como sempre, o silêncio,... Eu já estava habituada a ele o que não me seria um problema. Olhei para o meu lado esquerdo e lá estava Anne, ela seria minha nova tutora a partir de agora. 
Lembro-me dela vagamente quando eu era pequena, e até onde eu sabia, Anne era a melhor amiga de minha mãe. A filha dela e eu costumávamos nos dar muito bem, será que continuaria dessa forma? Eu sinceramente não sabia. 
— Está tudo bem, Sam? —  perguntou ela ainda mantendo os olhos na estrada. 
— Está sim. — eu respondi normalmente. 
— Nós vamos passar na sua futura nova escola antes de irmos para casa. — ela fez uma pausa. — Diretora quer fazer uma entrevista com você antes de integrá-la ao corpo de alunos. 
— Isto é realmente necessário? 
— Sim. 
— Tudo bem então! — eu suspirei fundo e me dei por vencida, afinal o que eu poderia fazer contra isso? Escola. Nem me mudando mais uma vez eu conseguia escapar-me dela. Mas só faltava mais dois anos, para a minha sorte. 
Como dizem, tudo tem seu lado bom e seu lado ruim. O lado bom é que ninguém além de Léah, filha de Anne, me conhecia. O lado ruim é que provavelmente eu seria a novata estranha da escola, já não bastava o meu jeito de ser chamar bastante atenção, eu ainda tinha que estar entrando na metade do primeiro semestre. 
Resolvi abrir a janela e então meti minha cabeça para fora do carro. O ar frio das montanhas cobertas de neve bateu em meu rosto,... Fazia tanto tempo desde a última vez que eu estivera aqui. Dez anos, para ser exata. E em todo esse tempo eu não sabia se isso era bom ou se era ruim. Será que eu fiz a escolha certa ao deixar tudo para trás? 
— E então minha criança, como se chama? — perguntou a mulher loira sentada a minha frente, que fora à mim apresentada como a diretora do colégio em que eu estudaria. 
— Samantha Parker. 
— É um prazer conhecê-la, Samantha! Eu fui colega de seus pais em minha época de escola, sabia? 
— Não. 
— Bom,... Que idade você tem Samantha? 
— Dezesseis. 
— Você entrará no segundo ano, correto? 
Eu apenas confirmei com a cabeça.
— De onde você vem, Sam? Posso chamá-la assim ?
— Claro. 
— Mas então,... Sam,... Você vem de onde? 
— New Jersey.
— Morou em outros lugares além de New Jersey e daqui? 
— Não. 
— Está gostando de retornar as raízes? 
— Não sei. 
Ela me olhou confusa e largou as folhas que preenchia e então se levantou bruscamente, confesso que não estava entendendo onde aquela entrevista idiota estava querendo chegar. 
— Tudo bem, Sam. Pode se retirar agora! Até segunda-feira!
A forma como ela me tratou durante toda a nossa entrevista fora doce e atenciosa e no final parecia mais que estava me enxotando da sala dela. Qual seria o problema dela? Na minha antiga escola, a maioria dos alunos diria que é falta de homem,... Eu não chegaria a tal ponto, embora tivesse de concordar com aqueles ignorantes numa hora como essa. 

Quando o carro parou em frente a casa onde moraríamos minha mente foi dominada por um flash back. Eu e Léah brincando de pega-pega no jardim enquanto minha mãe podava as roseiras. Meu coração apertou no peito,... Eu sabia que estava mexendo em feridas do passado mas que mais cedo ou mais tarde eu teria de remexer. — "não dá para fugir para sempre, e você sabe!" — a voz de Marybeth gritando comigo pouco antes de eu brigar com ela e nunca mais lhe olhar no rosto ecoou em minha mente. Uma dose de culpa invadiu meu corpo. 
Marybeth Jakson tinha sido minha melhor amiga por três anos na escola de Sebatian School, mas então ela acabou descobrindo os meus segredos e eu cortei meus laços com ela. Sabe, ela era tão sozinha quanto eu estou agora porém a diferença é que ela jamais entenderia nada do que se passa ou do que se passou comigo. Mesmo assim, ela foi o mais próximo que eu pude chamar de meu nesses últimos dez anos e a forma como a perdi se tornou mais uma ferida que ainda me dói. 
— Sam, não sei se você se lembra da Léah,... Minha filha...
Eu não conseguia acreditar que a garotinha com quem eu brincava estava daquele jeito. Léah havia se tornado uma mulher muito linda. Seus cabelos ruivos eram tão longos e ondulados quanto os meus, seus olhos verdes bem maquiados e seu corpo curvilíneo absolutamente perfeito que daria inveja até em uma modelo.
— Claro que lembro. — eu disse sorrindo. — Olá Léah! 
— É bom revê-la novamente, Sam! 
Ela me abraçou e eu surpreendentemente correspondi. Fazia tanto tempo que eu não abraçava alguém... Léah me levou até meu quarto e eu não me surpreendi ao descobrir que o quarto que agora me pertencia, um dia já fora meu. Ele estava da mesma forma como eu me lembrava,... As paredes brancas, o carpete peludo bege, as cortinas lilás,... Caminhei até a janela e a abri. O Ar frio invadiu o quarto e mesmo com a pele arrepiada sob o grosso moletom de lã, eu me senti bem. Caminhei até a escrivaninha onde agora estava meu notbook novo, e colados na parede estavam uma série de desenhos que eu fizera quando ainda muito pequena, o que me admirava já que estavam muito bem conservados. 
Abri as gavetas, e depois de achar uma série de papéis e coisas inúteis eu encontrei um livro que eu conhecia bem. — Branca de Neve — eu murmurei para mim mesma acariciando a capa com cuidado.  Folhei o livro com cuidado e encontrei uma rosa branca conservada em meio as páginas do livro e mais uma vez os flashs da minha infância invadiram minha mente. Dessa vez meu pai lia a minha história favorita assim como fazia todas as noites antes que eu dormisse,... A História da Garota que mordia a maçã envenenada e que só voltaria a vida após um beijo de amor... Eu realmente gostava daquela história e sempre sonhava em ser tão bela quanto a Branca de Neve. Infelizmente, agora não me interessa mais a beleza, meus pensamentos não eram tão infantis e meu coração não estava tão machucado. Em fim, após terminar a leitura ele me cobria com a minha deliciosa manta de soft, beijava minha testa e apagava a luz sempre deixando uma fresta na porta para que a luz do corredor iluminasse meu quarto. Mas naquela noite, eu me lembro das palavras que ele proferiu quando me entregara aquela rosa: 
"— Eu muito esperei pelo dia em que veria o seu sorriso, minha pequena. E quando você nasceu, foi o dia mais feliz da minha vida! Você é tão bela quanto esta rosa, e um dia alguém admirará você com o mesmo amor que eu admiro sua mãe. Quando esse dia chegar, estando longe ou perto meu amor será o mesmo assim como esta rosa branca! 
— Mas como papai? Ela vai murchar... 
— Não se colocarmos ela dentro desse livro! — disse ele pondo-a dentro do livro e o fechando — Pronto! Agora esta rosa estará conservada para sempre! Agora vá dormir minha pequena... Amanhã será um longo dia! Eu te amo!"
E como em todas as noites, ele beijou minha testa, me cobriu e saiu sem fechar a porta. Uma lágrima caiu dos meus olhos, aquele tinha sido o meu último momento feliz já que na manhã seguinte eu recebi a notícia de que minha mãe estava morta. 

























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